Sobre o perdão
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Sobre o perdão
O PODER DA GRAÇA
Luiz Cruz
Dizia Jesus, através do evangelista, ao ser interrogado por seu discípulo que parecia não entende-lo: “Então Simão Pedro aproximou-se de Jesus e lhe disse: ‘Senhor, quando o meu irmão cometer uma falta a meu respeito, quantas vezes lhe hei de perdoar? Até sete vezes?’ Jesus lhe disse: ‘Eu não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes’” (Mt 18,21-22). Pensar a graça no mundo cristão ou fora dele é o mesmo que pensar a capacidade de relacionamento, de gratuidade, que reside em cada ser humano em relação ao outro. O ser gratuito traz em si o emblema do ser responsável por outrem. Daí a gratuidade se revela no campo da responsabilidade. Um ser gratuito é um ser responsável pela vida e pela morte do próximo. Como também, equivaleria dizer: é um ser responsável pela felicidade ou não felicidade do outro. O dar a vida pela felicidade do outro ou para que o outro viva, é a expressão mais forte onde se pode compreender a questão da gratuidade. Foi isso que Cristo fez.
Um dos fatores, que são revelados por Jesus Cristo em seu evangelho, é a questão do perdão. Perdoar é um ato de amor gratuito para com o irmão. A revelação do plano salvífico de Jesus Cristo não ficou na superficialidade do ser humano, mas atingiu a sua totalidade. O fato de Jesus atingir o ser humano em profundidade – “Aquele cujos olhos são como chama de fogo” (Apoc 2,18b e 19,12a) – criou conflito social irrevogável. O texto evangélico, do evangelista Mateus, citado acima, revela a prática cristã. Na linguagem de Jesus não se calcula a bondade e generosidade que o cristão deve ter para com o outro. O ato de perdoar ao outro já é uma postura de afirmação da própria humanidade da pessoa. Ao perdoar, ou no ato do perdão, o ser humano não se perde, ele se encontra. É através da experiência do perdão que revelo a minha bondade, e o perdão é sempre intencional – para outrem. Não se perdoa para dentro, mas para fora. A intenção é atingir o outro, é beneficiar o outro, é torná-lo feliz – reconstruir a sua humanidade.
Simão Pedro não entende Jesus. No seu mundo o perdão tem possibilidade e limite, o abrir-se para o outro é restrito. Nele existe um cálculo numérico – perdoar sete vezes. O “sete”, na linguagem semita, é comportado da idéia de perfeição. Pedro, ao perguntar a Jesus se perdoa “até sete vezes”, significa, para ele, perdoar infinitamente. É comum para o semita entender esse número como totalidade. Porém Jesus ultrapassa os “falsos”, digamos assim, “infinitos” corriqueiros daquela época. A pessoa, sempre que erra, merece mais uma chance de se restabelecer, de fazer fruir sua humanidade corrompida pelo erro. Em Jesus perdoa-se sempre, até setenta vezes sete vezes além da infinitude calculada por Simão Pedro.
Assim, a partir de Jesus, não temos como ignorar o próximo. O outro é parte fundamental para a realização do projeto salvífico de Deus. O homem e a mulher só poderão se revelar gratuitos nas relações inter-humanas, numa partilha de perdão concretizado no amor, na ternura. Não tem como ser gratuito sem o outro. A gratuidade se caracteriza no dar a vida pelo outro. Guimarães Rosa, ao perceber a onda de assassínios (creio que não sejam só daqueles que fazem corpos caírem, mas também daqueles que deixam os corpos lesados, desfigurados e até semimortos), dizia: “A lógica é a força com a qual o homem algum dia haverá de se matar. Apenas superando a lógica é que se pode pensar com justiça. Pense nito: o amor é sempre ilógico, mas cada crime é cometido segundo as leis da lógica”. A abertura para as relações gratuitas será, um dia, o motivo da libertação integral do homem. O poder da graça será a armadura contra qualquer tipo de opressão e, como queremos sonhar, corpos não mais tombarão, pois não haverá motivos para a guerra, para a fome, para o racismo, para a miséria... Seremos abraçados e surpreendidos por um forte vulcão de humanidade e não haverá mais normas, não haverá mais reis, nem exércitos e sim uma e-terna revelação de sorrisos brotados do coração cada vez mais humano. A humanidade superará o cálculo, o acúmulo, a lógica capitalista, a morte.
Um dos fatores, que são revelados por Jesus Cristo em seu evangelho, é a questão do perdão. Perdoar é um ato de amor gratuito para com o irmão. A revelação do plano salvífico de Jesus Cristo não ficou na superficialidade do ser humano, mas atingiu a sua totalidade. O fato de Jesus atingir o ser humano em profundidade – “Aquele cujos olhos são como chama de fogo” (Apoc 2,18b e 19,12a) – criou conflito social irrevogável. O texto evangélico, do evangelista Mateus, citado acima, revela a prática cristã. Na linguagem de Jesus não se calcula a bondade e generosidade que o cristão deve ter para com o outro. O ato de perdoar ao outro já é uma postura de afirmação da própria humanidade da pessoa. Ao perdoar, ou no ato do perdão, o ser humano não se perde, ele se encontra. É através da experiência do perdão que revelo a minha bondade, e o perdão é sempre intencional – para outrem. Não se perdoa para dentro, mas para fora. A intenção é atingir o outro, é beneficiar o outro, é torná-lo feliz – reconstruir a sua humanidade.
Simão Pedro não entende Jesus. No seu mundo o perdão tem possibilidade e limite, o abrir-se para o outro é restrito. Nele existe um cálculo numérico – perdoar sete vezes. O “sete”, na linguagem semita, é comportado da idéia de perfeição. Pedro, ao perguntar a Jesus se perdoa “até sete vezes”, significa, para ele, perdoar infinitamente. É comum para o semita entender esse número como totalidade. Porém Jesus ultrapassa os “falsos”, digamos assim, “infinitos” corriqueiros daquela época. A pessoa, sempre que erra, merece mais uma chance de se restabelecer, de fazer fruir sua humanidade corrompida pelo erro. Em Jesus perdoa-se sempre, até setenta vezes sete vezes além da infinitude calculada por Simão Pedro.
Assim, a partir de Jesus, não temos como ignorar o próximo. O outro é parte fundamental para a realização do projeto salvífico de Deus. O homem e a mulher só poderão se revelar gratuitos nas relações inter-humanas, numa partilha de perdão concretizado no amor, na ternura. Não tem como ser gratuito sem o outro. A gratuidade se caracteriza no dar a vida pelo outro. Guimarães Rosa, ao perceber a onda de assassínios (creio que não sejam só daqueles que fazem corpos caírem, mas também daqueles que deixam os corpos lesados, desfigurados e até semimortos), dizia: “A lógica é a força com a qual o homem algum dia haverá de se matar. Apenas superando a lógica é que se pode pensar com justiça. Pense nito: o amor é sempre ilógico, mas cada crime é cometido segundo as leis da lógica”. A abertura para as relações gratuitas será, um dia, o motivo da libertação integral do homem. O poder da graça será a armadura contra qualquer tipo de opressão e, como queremos sonhar, corpos não mais tombarão, pois não haverá motivos para a guerra, para a fome, para o racismo, para a miséria... Seremos abraçados e surpreendidos por um forte vulcão de humanidade e não haverá mais normas, não haverá mais reis, nem exércitos e sim uma e-terna revelação de sorrisos brotados do coração cada vez mais humano. A humanidade superará o cálculo, o acúmulo, a lógica capitalista, a morte.
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