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Quando chega a hora

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Mensagem por Luiz Cruz 31/07/08, 07:11 am

Esta história me contaram. Gostei e a escrevi. São coisas que acontecem no interior, na roça. Trantando-se de um povo sem atenção devida, busca alternativas entre eles mesmos. Assim nascem personagens que nossa lógica não consegue conceber.
Que Deus mantenha sua bênção sobre nosso povo rural.
Fraternalmente,
Luiz Cruz



SERÁ QUE CHEGOU A HORA?



Dizem que, “quem conta um conto aumenta um ponto”. Eu não quis ser exceção. Alguém me relatou esta história e agora reconto. Trata-se de uma comunidade rural da cidade de Ouro Branco, bem no interior do Estado de Minas. Um pequeno arraial que fica a 12 km do centro urbano, chamado Geada. Ali é palco de uma série de contos e histórias. Entre tantos causos, desse eu não pude me esquecer. O povoado, por estar a certa distância da cidade, precisava naquela época se arranjar. Médico naquela região era muito difícil, padre passava por ali de vez em quando.Às vezes o povo ficava mais de seis meses sem a visita de um sacerdote, que costumava chegar por ali montado num lombo de burro, devido ao difícil acesso.

Havia naquele lugar um senhor chamado Pedro Gonçalves. Era um senhor místico e respeitado pelos seus concidadãos. Ele ficou conhecido nesse lugar como aquele que devia por a vela na mão dos moribundos, quando estavam para morrer. Era o convidado para as horas difíceis. Puxava a oração do terço e, logo em seguida, todos saíam do quarto do enfermo e ele, de um jeito todo peculiar, resolvia a situação.

As pessoas daquele lugar tinham grande confiança em Pedro Gonçalves, mas ao mesmo tempo temiam sua presença. Era uma aparência cercada de mistérios. Parecia, pelo ofício costumeiro, trazer em seu semblante um ar fúnebre que esfriava a espinha de quem o encontrava pelos boqueirões daquelas estradas solitárias e sombrias. Quando um doente estava agonizando, mas não tinha forças para morrer, Pedro Gonçalves era chamado para acender uma vela em sua mão. Sereno, entrava no quarto do moribundo, fazia suas orações e dava o enfado por concluído. Entregava o agonizante aos cuidados do céu.

Sempre fiquei curioso sobre esse costume de acender uma vela na mão daquele que estava para morrer. Mais tarde me explicaram que, quando a pessoa morre, no seu momento derradeiro precisa receber um luzeiro que a acompanharia no tempo das trevas para, após uma longa viagem, alcançar a verdadeira Luz. Pareceu-me estranho, mas tive que concordar. Outros ainda diziam acerca do sentido simbólico da Luz: Cristo é a verdadeira Luz. A vela, pequena chama, na mão do enfermo representa a mão de Jesus Cristo que agora irá conduzí-lo ao Pai. Numa comunidade rural, muito distante dos centros urbanos, em certa ocasião alguém estava para morrer. A família ficou desesperada, pois não havia vela naquelas redondezas. Sem ter muito tempo para procurar, pois o doente já estava nas últimas, alguém teve a idéia de pegar uma brasa do fogão e colocá-la em sua mão. Sentindo aquela dor ardente o moribundo disse suas últmas palavras: - É morrendo e aprendendo!

Com o tempo só em falar que o Sr. Pedro Gonçalves estava chegando, o moribundo expirava. Quando ele não dava conta de atender toda a sua freguesia, era uma alternativa para a família parar com aquela agonia. Fico imaginando o estado do doente aguardando a iminente chegada daquele visitante. Uma vez estive gravemente enfermo. Tinha acabado de ser transplantado. Na solidão do meu quarto de hospital pensei numa possível visita de Pedro Gonçalves. Concordei que só ele ao se aproximar de minha porta já seria o suficiente. Não desejaria de forma alguma descobrir quais seriam os resultados dessa sinistra visita.

Tinha como compadre e amigo Antônio Bruno. Eram amigos de conversas que venciam as estrelas. Saiam para pescarias e caçadas que atravessavam noites adentro. Certa vez Antônio Bruno ficou doente e de cama. Permaneceu muito tempo prostrado em seu leito, onde sua mulher lhe levava alimento. Não tinha nenhuma disposição. Não se levantava para nada e até para suas necessidades fisiológicas era-lhe levado o urinol. Quando já havia passado umas três semanas do sumiço do compadre, Pedro Gonçalves se preocupou e resolveu lhe fazer uma visitinha. Chegando até a porta de entrada da casa, chamou a comadre que logo veio ao seu encontro. Do quarto Antônio Bruno ouviu a saudação da mulher:

- Como vai compadre Pedro Gonçalves?

- Estou bem, graças a Deus comadre. Eu vim ver o compadre Antônio Bruno, disse ele. – Fiquei sabendo que está muito doente.

- Ele está no quarto compadre, pode chegar até lá.

Após esses dizeres de sua esposa, Antônio Bruno esqueceu a doença e, imediatamente, levantou-se e num único fôlego alcançou a porta do seu quarto. Abrindo a porta disse firmemente ao seu compadre:

- Pode ir embora compadre Pedro Gonçalves, já melhorei. Vá embora compadre.





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Mensagem por Hi-Tech 31/07/08, 11:50 am

Muito Obrigado , gostei demais!
Está perfeito
:D
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Mensagem por Luiz Cruz 25/10/08, 12:55 pm

Olá pessoal! Agradeço os comentários. É motivadora a participação de vocês nas postagens. Acho que é assim que se caminha: tomando pequenos fraguimentos de luz e deixando que nossa existência vá sendo por eles iluminada. Aqui passou a ser um espaço desses: uma pequena lamparina. Clareia um pouco para nos perdermos menos em nossas vidas. Mas também não podemos deixar de ser um pouco cômicos, pois a vida merece uma boa dosagem de humor.

Meu fraterno abraço! Luiz Cruz
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Mensagem por Hi-Tech 25/10/08, 05:37 pm

Luiz Cruz escreveu:
Olá pessoal! Agradeço os comentários. É motivadora a participação de vocês nas postagens. Acho que é assim que se caminha: tomando pequenos fraguimentos de luz e deixando que nossa existência vá sendo por eles iluminada. Aqui passou a ser um espaço desses: uma pequena lamparina. Clareia um pouco para nos perdermos menos em nossas vidas. Mas também não podemos deixar de ser um pouco cômicos, pois a vida merece uma boa dosagem de humor.

Meu fraterno abraço! Luiz Cruz

Tem toda razão Luiz Cruz , concordo plenamente com você .

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